Ser mãe nem sempre é uma escolha simples, nem uma possibilidade imediata. Para muitas mulheres, a maternidade vem depois de um longo percurso de expectativas, exames, diagnósticos e decisões difíceis. Para Ana Teresa e Myrna Cavalcante, o Dia das Mães é mais do que uma celebração. Ele marca a realização de um sonho que exigiu coragem, paciência e, acima de tudo, fé.
A história de Ana Teresa, de 39 anos, é de esperança e transformação. Após vários anos tentando engravidar, ela decidiu mudar de direção.
“Estávamos voltando de uma consulta, depois de passar por seis médicos, e eu disse: vamos esquecer remédio, esquecer médico. Vamos adotar”, lembra ela, com a certeza de que o amor não precisaria vir através da gestação.
Cristã e com forte fé, Ana sempre soube que, se fosse da vontade divina, engravidaria, mas se não fosse, o processo de adoção seria igualmente abençoado e rápido.
“Eu não tinha o desejo de engravidar a qualquer custo. O que eu queria era ser mãe. Eu tinha certeza de que isso ia acontecer.”
Ao lado do marido, Leonardo, Ana não desistiu. Enfrentou a burocracia do sistema e não se deixou desanimar pela espera. “Eu não queria pegar uma criança no interior, nem ‘doar’ informal. Queria tudo certo. Eu não queria depois alguém dizendo: ‘me dá meu filho de volta’. Eu queria ser mãe e pronto. Pelos meios corretos”, afirma Ana.
Em 2021, veio a primeira ligação da Vara da Infância. Um perfil que atendia ao desejo do casal. “Quando conhecemos a Vitória, ela tinha nove meses. A gente foi passar o fim de semana com ela e não devolveu mais. Virou nossa Ana Vitória.”
A felicidade foi completa quando, dois anos depois, outra ligação. Outra criança no perfil. Mas dessa vez, Ana hesitou. “Eu pensei: como vamos sustentar duas crianças? Já tá difícil com uma…”. Mas bastou ouvir o nome: Davi. O mesmo que ela e o marido haviam escolhido, anos antes, quando ainda imaginavam um bebê biológico. “Eu disse: é de Deus. Vamos buscar.”
O processo de adaptação não foi fácil, mas o amor foi mais forte. “Hoje, eles não vivem um sem o outro. Se alguém brinca que vai levar o Davi, a Ana Vitória se agarra nele e diz: ‘não vai!’”, conta Ana. Para ela, ser mãe não depende do sangue.
A luta pela gestação e a vitória após a bariátrica
A história de Myrna Cavalcante tem um caminho que se cruzou com a cirurgia bariátrica. Durante quatro anos, Myrna tentou engravidar, mas não conseguiu. Ela já havia feito todos os exames possíveis e, apesar de estar saudável, não entendia o motivo das tentativas frustradas.
“Eu pesava 105 kg, mas me aceitava assim. Nunca me senti mal com o meu corpo. Até que, em um exame, a médica me alertou que, em alguns casos, o peso pode ser um fator limitante.”
Foi quando Myrna recebeu um diagnóstico que a fez repensar tudo: esteatose hepática, gordura no fígado. Mesmo com os exames normais de colesterol e glicemia, o gastroenterologista não teve rodeios.
“Ele disse: ‘entre uma gordinha saudável e um mal súbito, existe uma linha muito tênue’”. A frase a marcou profundamente e fez com que ela tomasse uma decisão difícil, mas necessária. “Ali eu comecei a repensar tudo”, relembra Myrna.
Foi então que ela começou a pesquisar mais sobre a cirurgia bariátrica e seus efeitos na fertilidade. Descobriu que muitas mulheres engravidavam com mais facilidade após a perda de peso.
“Eu vi que a bariátrica ajudava a liberar mais óvulos. Então, eu resolvi dar o sim. Pela maternidade.” O processo foi longo e desafiador, mas dois anos depois da cirurgia e algumas tentativas, a boa notícia chegou: Myrna estava grávida de gêmeos.
“Eu nunca me imaginei mãe de menina, mas já falava de Davi, que eu já tinha escolhido o nome dele antes de ele existir”, conta.
O segundo filho, Matheus, foi uma surpresa ainda mais especial. “Como meu marido já tinha filhos, nós tínhamos decidido que seria uma gestação única. Deus me deu muito mais do que eu pedia.”
A felicidade, no entanto, veio acompanhada de desafios. Em meio à pandemia da covid-19 e todos os medos naturais da gestação, a internação da mãe, que pouco depois faleceu. Entre tantas angústias, um sangramento e depois vieram mais oito sangramentos.
“Eu vivi minha gravidez toda à base de progesterona, para poder segurar o feto na barriga. Mas nunca tive um deslocamento de placenta. No meu parto, os meninos passaram por todos os testes respiratórios. Foi ali que eu percebi o cuidado de Deus comigo.”
Os gêmeos nasceram com 33 semanas. “Ainda é prematuro. Matheus nasceu com 1,910 kg e Davi com 2,3 kg. Dois tamanhos de gente que pareciam super frágeis, mas eram dois guerreirinhos bem fortes. Eles me deram força. Porque foram eles que me fortaleceram."
Ser mãe, não importa como
Para Ana e Myrna, o processo de se tornar mãe foi mais complexo do que muitas vezes se imagina. Mas ambas chegaram à maternidade com uma certeza: o amor materno não tem fronteiras, não depende do corpo e muito menos do sangue.
"Eu nunca tive essa coisa de 'tem que ser do meu sangue'. Amor não está no DNA. Vá pelo caminho da adoção. É difícil, mas vale a pena. Ser mãe é possível. O amor vem", diz Ana.
E Myrna compartilha o mesmo sentimento, ao lembrar o quanto a gestação de gêmeos foi um sonho realizado. “Minha maternidade foi escrita no tempo certo, quando a minha vontade se alinhou à de Deus.”
Neste Dia das Mães, essas histórias representam milhares de outras, de mulheres que enfrentaram desafios para realizar o sonho de ser mãe. Não importa o caminho — seja pela gestação, pela adoção ou por outros meios — o amor de mãe sempre encontra seu lugar, cheio de fé, resistência e muita esperança.
Fonte: Portal Cidade Verde