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Um mês depois que assumiu, empresa Águas do Piauí ainda não disse a que veio e problemas só aumentam

Ainda há uma falta d’água constante em cidades populosas como Parnaíba, crise hídrica em diversos municípios do sertão piauiense, e muitos problemas

Redação
Por: Redação
29/06/2025 às 10h57
Um mês depois que assumiu, empresa Águas do Piauí ainda não disse a que veio e problemas só aumentam
Águas deTeresina (Foto: Reprodução OitoMeia).

A empresa Aegea, através da Águas do Piauí, está prestes a completar um mês que assumiu o comando do abastecimento de água e esgoto em todo o estado do Piauí, após ganhar a concessão de prestação de serviços em mais 42 municípios do estado, já que a empresa já tinha iniciado a sua atuação em outros 33 municípios.

E o que se pode dizer, até o momento, da mudança? Melhorou? Piorou? Após a extinção da antiga Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa), a população piauiense demonstra que ainda enfrenta muitos problemas quando o assunto é um item que é tão importante para tanta gente: água.

A empresa Águas do Piauí assumiu a operação de serviços de abastecimento e de esgoto pretendendo chegar, em um primeiro momento, a pelo menos 154 municípios, com a expectativa de beneficiar quase duas milhões de pessoas. Ou seja: cobrindo praticamente todo o estado.

OitoMeia fez uma apuração detalhada, ouvindo fontes, buscando responsáveis, e, claro o público usuário, para saber qual a real situação no estado. Ainda há uma falta d’água constante em cidades populosas como Parnaíba, crise hídrica em diversos municípios do sertão piauiense, e muitos problemas a serem resolvidos.

Sede da Agespisa: fim de uma era (Foto: Divulgação/Governo do Piauí)

DA AGESPISA PARA A AEGEA

A transição da Agespisa — integrante, em conjunto com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), da Microrregião de Água e Esgoto do Piauí (MRAE), autarquia intergovernamental que até então era responsável por fornecer água ao estado — para a Águas do Piauí ocorreu após o início de um processo de extinção motivado por problemas financeiros.

Com a privatização do serviço, o Governo do Estado do Piauí implementou o Programa de Afastamento Incentivado (PAI). De acordo com José Santana, presidente da Agespisa, cerca de 600 funcionários, de um total de quase 900, aderiram ao plano de desligamento. A estatal segue agora os passos finais para o encerramento definitivo de suas atividades.

Enquanto muitos “Agespianos” vão abandonando seus cargos, se despedindo de funções que, para alguns deles, há anos estavam habituados, a holding Aegea — grupo que também comanda a Águas de Teresina — vencia a concessão do serviço em um leilão realizado em outubro do ano passado (2024), por R$ 1 bilhão, com um contrato válido por 35 anos.

E O QUE O POVO ESTÁ ACHANDO?

Apesar de o acordo entre o Governo do Estado e o Grupo Aegea ter sido visto como um “avanço” rumo à melhoria do saneamento básico no Piauí, como tentou plantar na mídia a assessoria da empresa privada, as reclamações da população quanto ao serviço prestado só aumentaram. Ainda mais com o histórico de problemas relacionados ao que a empresa já faz na capital do Piauí, com a Águas de Teresina.

Um popular, Rafael Borges, morador do residencial Mário Covas, na zona Sul de Teresina-PI, falou ao OitoMeia sobre como vê essa situação em que a empresa que já atende os serviços de abastecimento na cidade atenderá no restante do estado:

 “Só aqui, no Mário Covas, são vários vazamentos de água. Apenas no mês passado foram mapeados dez vazamentos em algumas ruas do bairro e encaminhados à Águas de Teresina com suas respectivas localizações via WhatsApp. A empresa só retirou uns quatro vazamentos, e os demais continuam derramando água há anos, servindo de piscina para os cachorros”, afirmou.

No município de Piracuruca, a 208 km de Teresina, o caso também é grave. Mariana Ferreira, moradora do bairro de Fátima, compartilhou sua experiência:

“Está faltando água há quatro dias, pelo menos, no meu bairro. Chega de madrugada e acaba de manhã cedinho. Acaba que não dá para fazer nada. Um desacato total. As contas chegam, mas a água não. Já liguei diversas vezes, e eles dizem que vão mandar alguém, mas até agora, nada”, declarou.

Casos de vazamentos pioram e existem em Teresina e agora em todo o Piauí (Foto: OitoMeia)

FALTA EMPATIA NA RELAÇÃO COM O CONSUMIDOR?

Ou seja: pelo visto, para o povo, a Aegea não presta um bom serviço. Uma situação inusitada recente demonstra um pouco do que é a relação da empresa com o consumidor. Tatiana Nascimento, moradora do bairro Satélite, zona Leste de Teresina, viveu uma situação inusitada. Após a água de sua vizinha — que tem um bebê recém-nascido — ter sido cortada, seu pai, em um ato de solidariedade, decidiu passar uma mangueira por cima do muro para ajudar os vizinhos. Tatiana publicou um vídeo da ação nas redes sociais. Viralizou. No entanto, após a repercussão nas redes, a equipe da Águas de Teresina foi até o local para realizar uma vistoria.

 “O funcionário veio porque notaram um suposto aumento no consumo. O estranho é terem vindo um dia depois do vídeo viralizar no Instagram, sendo que meses atrás meu pai suspeitou de um vazamento e eu entrei com pedido para eles virem, mas demoraram semanas”, afirmou.

Tatiana contou que o funcionário da empresa entrou na residência e registrou fotos do buraco feito pelo seu pai no muro. Logo após, ele relatou que não foram encontrados vazamentos e que uma equipe especializada retornaria posteriormente. No entanto, até o momento, a concessionária não enviou mais ninguém ao local.

“Acredito que eles queriam ver se havia alguma ligação clandestina da minha casa para a do vizinho, mas não tem. É só uma mangueira mesmo, que o papai colocou para que os vizinhos pudessem encher os baldes”, pontuou.

Registro da vistoria realizada a casa de Tatiana Nascimento (Foto: Enviada ao OitoMeia)

GARGALO: FALTA D’ÁGUA EM CIDADES DO SERTÃO DO PIAUÍ

Mas o gargalo é ainda maior quando se trata de municípios do interior do estado. Em média, cinco municípios do Sul do Piauí enfrentam sérios problemas com o desabastecimento de água. Moradores da cidade de Caracol, a 578 km de Teresina, por exemplo, denunciam que estão há 30 dias sem água. Isso hoje. Mas há anos sofrem com o problema, nunca resolvido, seja lá qual for o governador do estado.

Em Picos, a 266 km da capital, a situação se repete. Os bairros mais afetados são Morada do Sol, São José e Morro da Macambira. Não é incomum ver um caminhão-pipa circulando pelas ruas destes bairros, oferecendo o serviço de água para populares, para quem pode pagar. Outras cidades também sofrem com o problema, como Flores do Piauí e Campinas do Piauí. E vale lembrar: o único município onde a Águas do Piauí ainda não iniciou suas operações é justamente Caracol.

Recentemente, o prefeito de Uruçuí, Gilberto Júnior (PP) fez um pronunciamento publicado em suas redes sociais, denunciando a escassez de água no município. O vídeo viralizou. CLIQUE AQUI para assistir.

“Estamos em Uruçuí há cinco dias sem água. Desde o momento em que soube desse descaso, entramos em contato com a direção da AEGEA pedindo providências urgentes. Eu, como prefeito, não irei permitir essa omissão. Água é dignidade. Água é vida”, afirmou.

Ao OitoMeia, a Águas do Piauí emitiu uma nota de esclarecimento sobre os casos abordados nos municípios citados nesta matéria. Em relação aos relatos, na capital, entretanto, a empresa não se pronunciou, sob a justificativa que seria necessário informações adicionais, como o número da matrícula dos imóveis, para que houvesse um pronunciamento mais específico. Contundo, a reportagem apresentou os relatos com nomes dos moradores, bairros e circunstâncias detalhadas, mas não houve o posicionamento na concessionária devido a uma exigência burocrática.

Município de Uruçui sofre com desabastecimento de água (Foto: Reprodução)

O QUE DIZ A ÁGUAS DO PIAUÍ 

A seguir, a nota da Águas do Piauí, divulgada na íntegra:

“A Águas do Piauí informa que vem atuando de forma intensa e contínua no atendimento aos piauienses, com a ampliação dos investimentos, das equipes técnicas e da cobertura operacional em todo o estado. A empresa tem previsto um investimento de R$ 1,1 bilhão no primeiro ano de concessão, no que representa o maior projeto de transformação social do Piauí.

Na região de Picos, logo no início desta semana, foram constatadas ações clandestinas de fechamento de registros de poços que abastecem os bairros Morada do Sol e São José. A situação foi encaminhada para as autoridades competentes e após reabertura dos registros, o fornecimento de água foi retomado de forma gradativa nas primeiras horas da última terça-feira (17). No bairro Morro da Macambira, um novo poço será perfurado, equipes técnicas já iniciaram as atividades de preparação para que a obra possa iniciar nos próximos dias, o que possibilitará um abastecimento regular à comunidade.

No município de Flores do Piauí, foi identificado vazamento em uma rede de distribuição. A ocorrência foi solucionada após a manutenção realizada no último dia 17, e o abastecimento segue normalizado.

Em Piripiri, foi realizada manutenção emergencial no sistema de captação de água, em razão da queima de uma bomba de alta potência, ocorrida na noite da última terça-feira (17). O equipamento, que é responsável por bombear água bruta para o tratamento e distribuição em toda a cidade, já foi substituído e o abastecimento gradativamente retomado.

Em Uruçuí, no início da semana, durante inspeção, foi identificado um cabo elétrico rompido em um dos poços da região, cuja correção foi realizada na última segunda-feira (16), resultando na volta do abastecimento. Também realizamos estudos técnicos visando a ampliação e modernização do sistema de abastecimento da cidade, tendo como primeira medida efetiva, a perfuração de um novo poço com cerca de 200 metros de profundidade na região dos bairros Bela Vista e Aeroporto, que ampliará a capacidade de produção em 15 mil litros por hora, contribuindo para garantir o abastecimento contínuo, 24 horas por dia. A obra está prevista para ser concluída até o dia 15 de julho.

Em relação aos municípios de Caracol e Campinas do Piauí, a Águas do Piauí informa que ainda não é responsável pela prestação dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto, cumprindo o cronograma previsto no contrato de concessão, com previsão de assumir os serviços nas demais cidades do estado até o fim de julho de 2025.

A concessionária está disponibilizando caminhões-pipa para o atendimento emergencial de casos prioritários nas cidades em que já assumiu essa gestão e reforça que mantém canais de atendimento 24 horas por dia, disponíveis para solicitações, dúvidas ou ocorrências emergenciais: 0800 223 2000 (ligação gratuita e WhatsApp) e o aplicativo Águas App”.

 Fonte: OitoMeia/Maria Albuquerque